Aos seis anos eu quebrei um galho da sua roseira enquanto brincava de bola, nunca vou esquecer a cara de brava com a qual você me olhou. Aos oito cortei meu pulso na vidraça do barracão, corri até você pingando sangue na casa toda e chorando... gritei quando passou arnica, lembro da ardência, mas lembro mais da sua cara de preocupação. Aos onze tive diagnóstico de diabetes e jamais esquecerei sua postura calma de tudo vai dar certo. Aos quinze te contaram que eu tinha namoradinhos e como me olhou gozado com aquela expressão espantada. Aos dezoito passei no vestibular e nunca me esquecerei do seu orgulho evidente.
Todos sempre me dizem como sou parecida com a senhora... mesmo cabelo liso, mesma personalidade forte. Mas não creio que consiga um dia ser tão maravilhosa quanto você. E me sinto tão culpada por nunca dizer isso, tão culpada por ter as mãos atadas diante de tudo. O laço rosa no meu ombro é para você... uma homenagem pequena às suas grandes vitórias. Não sei se seria capaz de passar por tudo o que já passou... mas sei que, se fosse o caso, sua mão estaria estendida para mim.
Venho assistindo sua batalha, estou vendo seu cansaço. Me contaram da sua dor... me disseram que não tem muita coisa a ser feita. E isso tá me matando. Eu que sempre reclamei de ter que fazer tudo, agora me desespero com a idéia de não poder fazer nada. E eu te amo tanto, mais tanto... eu to com tanto medo... Não sei lidar com isso, só sei que eu te amo, vó... Vó, eu to aqui.