segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Amanhã é outro dia



Aquele segundo estava eternizado. O local, a luz, o sentido do vento, as palavras... tudo dolorosamente tatuado em suas lembranças. Algo ali morrera, disso ela tinha certeza. E, de tudo, o que mais doía era aquele espaço paradoxalmente vazio e cheio ao mesmo tempo.  Andava a passos largos, levando consigo um desespero incontido, gritando por dentro uma angustia abstrata e centenas de palavras que jamais seriam ditas. Tentava em vão respirar um ar que não entrava e seguia cambaleante  por ruas desconhecidas para o mais longe que conseguisse chegar.
Via-se ante um presente que mal podia encarar. Assustavam as sensações, entorpeciam as dores, torturavam as lembranças e a saudade. Era uma mágoa tão profunda que paralisava suas ações, acorrentando-a a tudo o que queria, e não queria, esquecer. Controlava, como podia, a vontade de correr até ele, de ajoelhar, pedir, implorar que por favor ficasse mais um pouco. E simplesmente seguia, sem a menor ideia de como lidar com aquele desespero irracional de quem perde o que nunca teve.
Doía a rejeição e doía, ainda mais, o continuar sentindo, amando, querendo... Então o inesperado: não entendia seus motivos ou sua determinação em ampará-la, mas gostava... gostava de não estar só, de ter para onde correr e de esquecer, por instantes, o caos andante que era. Sentia-se, pela primeira vez em muito tempo, especial e aquilo a deslumbrava. E quem sabe a solução não era essa? Deixar-se conquistar por quem realmente estivesse disposto a querê-la.
Ele a encantava e isso a confundia...porque quando fechava os olhos era o passado que via, mas não precisava abri-los para sabe-lo ali ao seu lado segurando, pacientemente, sua mão. Precisava do novo, ainda amava o antigo. Cansada de luta, dores, rejeição... cansada. Era noite e tinha sono, ‘não precisa ficar’, mas ele ficou. Era escuro e tinha medo, mas ele a velava. Então que dormiu, protegida pelo novo, ainda amando o antigo... Amanhã é outro dia.



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